terça-feira, 12 de agosto de 2008

A ESPIÃ



De Paul Verhoeven

Ano 1958. Vemos uma bela paisagem desértica. Imponentes montanhas sem vegetação e um ônibus de turismo rodando pelo asfalto. Finalmente ele para na entrada de um kibutz e os turistas descem. Entre eles uma mulher elegante e seu marido. Ela imediatamente começa a fotografar o local, mas sua atenção é desviada pelas vozes de crianças, numa escolinha local. Curiosa, volta-se para lá e fotografa a professora e seus alunos, mas é imediatamente reprimida pela mestra, que fecha a cortina e diz que está perturbando a aula. Todavia a turista lembra-se de seu rosto e pergunta se ela não é Rachel Stein (Carice Van Houten em ótima atuação). Então as duas se abraçam e relembram alguns fatos ocorridos na Holanda há muitos anos, em 1945. Após a partida do grupo, Rachel caminha e se senta à beira de um lago e começa a rememorar sua vida.
Holanda 1945 às vésperas do término da segunda guerra mundial, Rachel, judia, procura um amigo de seu pai, a fim de fugir do país. O senhor concorda em dar-lhe uma grande soma em dinheiro, que será debitada da conta de seu pai. Rachel deverá estar num determinado ponto de onde será levada em uma balsa para a Bélgica. Encontra-se com outros judeus e fazem uma pequena viagem. Lá chegando encontra seus pais e seu irmão (desaparecidos), para sua grande surpresa. Eles lhe relatam que esse mesmo amigo, que havia escondido os três, avisou-lhes sobre sua travessia e resolveram fugir juntos. Os diversos fugitivos israelenses, que se encontram, levam apenas uma mala, dinheiro e diamantes, por serem mais fáceis de esconder. Uma embarcação os conduz para a fuga, todavia o irmão de Rachel, ex-marinheiro, espanta-se com o rumo do barco, mas o timoneiro diz que navegam em zig-zag para despistar os alemães. No mesmo momento, são surpreendidos por um barco nazista, cujo comandante tem uma cicatriz no rosto, que os cerca e metralha todos, formando uma enorme possa de sangue. Rachel é a única sobrevivente, pois se lançara ao mar mesmo ferida. É resgatada por um grupo de holandeses da Resistência. Concordam em ajudá-la, contudo Hans, um dos chefes (provavelmente médico) sugere que mude de nome e se infiltre nos meio dos alemães para ajudá-los, mas que isso poderá custar sua vida. Sem família e desesperada é sua única saída. Rachel é uma jovem sofisticada, ex-cantora, de família rica, muito independente e corajosa. Passando-se por uma alemã requintada, Ellis de Vries, em uma festa nazista atrai a atenção do chefe da Inteligência alemã Ludwug Muntze (o ótimo Sebastian Koch), pela sua belíssima voz. Apaixonam-se e ela vai trabalhar no centro da SS. Contudo ele descobre que Ellis é judia e a força delatar os planos da Resistência. Essas questões de delações eram muito complicadas de se julgar moralmente. É sua vida em jogo e o ser humano tende a preservá-la, com grandes complexidades.
Ellis tem uma missão muito perigosa: instalar um microfone na sala do general, para que o grupo possa saber de seus passos e assim evitar que mais judeus sejam massacrados, como sua família. Fica claro que existe um delator entre os holandeses que passa as informações para os alemães, pois toda tentativa de resgate elaborada é mal sucedida. O chefe principal do grupo tem seu filho preso numa emboscada e é brutalmente torturado e preso. Um plano é elaborado por Hans Ackerman para salvar Tim e todos os demais dos subterrâneos alemães. O dirigente do grupo, pai de Tim, ficará no escritório da resistência e os demais irão, com a ajuda de Ellis, incumbida de abrir a passagem para eles. É perto do aniversário de Hitler e Franken (o mesmo que matou sua família e demais israelitas) coloca em xeque a honorabilidade de seu superior, Muntze o amante de Ellis. Num golpe de mestre o invejoso Franken, denuncia sua comiseração com os prisioneiros de guerra. Preso por alta traição é condenado à morte e aprisionado. Ellis exige que seus amigos resistentes também libertem seu amante. Hans concorda, a duras penas, e partem para o ataque. É durante uma festa de aniversário para Hitler, que já se encontra muito desgastado e quase derrotado, que a operação ocorrerá. As festas nazistas são regadas a champanhe, comida farta (enquanto a população que o apóia morre de fome) e muitas mulheres lindas, entre elas Ellis e uma grande amiga que conhece no seu trabalho junto a SS. Ambas não são nazistas, nem simpatizantes, mas procuram salvar-se e sobreviver a tanto horror. Ellis abre a porta do corredor que adentra ao subterrâneo, correndo gravíssimos riscos. Corajosa e perspicaz cumpre com eficiência sua parte do plano. Franken, agora general com a prisão de Sebastian, comemora o aniversário (sem a presença do Fuhrer) com esbanjamento e orgia. Quando a Resistência começa a abrir as portas das celas, aparecem soldados alemães que os dizimam, salvando-se apenas Hans, ótimo atirador, e outro jovem soldado. Ao chegarem sozinhos e feridos no bureau holandês, o pai de Tim desmorona e juntos julgam que Ellis é espiã dupla, pois desmascarada pelo cruel Franken é obrigada a falar com ele e a “escuta” revela que conhece muito bem o general. Amordaçada para não deixar transparecer seu desespero para seus amigos da Resistência é jogada na prisão, à espera da execução. Todavia, Sebastian Muntze auxiliado por um ex-ajudante honrado, a soltam e eles fogem para um pequeno barco, nos canais holandeses. Trocam juras de amor e se comprometem a viver sempre juntos, por toda a vida! Voltando a Amsterdam vão ao encontro do velho amigo do pai de Ellis, que não é outro senão um dos elos de destruição dos judeus. Franken, com sua ajudava, emboscava todos os barcos que queriam se refugiar, daí o malogro de todas as tentativas. Mas ele não é o único outros deviam estar infiltrados. Rachel e seu amante são reconhecidos, ele é assassinado e ela presa, novamente, por ter colaborado com os nazistas!
Na prisão Rachel é humilhada e maltratada. Um grupo de fascistas, pertencentes à escória humana, entra na prisão e humilha os presos. Ellis é reconhecida e espancada. Um balde de fezes é jogado sobre suas feridas e nesse estado é resgatada pelo exército inglês, que deplora tal ato de selvageria. Agora, acompanhada por Hans é levada para seu consultório a fim de ser medicada. Talvez um novo caso de amor? Hans, a princípio, se envolve com ela, mas não é correspondido. Pela primeira vez Rachel chora pela perda da família e por seu martírio sem fim! Hans aplica-lhe um sedativo no braço, para que se acalme. Fora, a multidão o aclama e pede para que apareça no pequeno balcão. Enquanto os dois conversam, a visão de Ellis vai se apagando, mas ela percebe que o sedativo era insulina, que a matará. Hans Akerman confirma sua suspeita e lhe declara que deve morrer. Astutamente, Ellis consegue alcançar uma barra de chocolate, que todo soldado tem em sua mochila, enquanto ele aceita o delírio do povo como herói de guerra. Sonolentamente ela se ergue e pula a grade do balcão, caindo no meio da multidão, conseguindo se salvar, mais uma vez! Hans grita freneticamente que a peguem, mas sem sucesso. Entrando em contato com o exército inglês, vai à procura do pai de Tim, para se explicar. Chega ao momento em que Tim está sendo exumado e reconhecido pelo pobre pai, que neste momento quer matá-la, mas é informado pelos oficiais que ela tem um importante documento a lhe mostrar. Vendo a agenda do amigo de seu pai, compreende sua posição de vítima e juntos vão á procura das demais famílias judias massacradas. O último elo é descoberto. O próprio Hans Ackerman é o delator dos planos da Resistência holandesa.
A guerra é sempre um acontecimento imoral, envolvendo delações, corrupção, chantagens e denúncias. Ninguém pode se beneficiar disso. Só os muitos corruptos e devassos! Outra cena e estão Rachel e o pai de Tim ao encalço do oficial holandês, que encontrado num esquife, dentro de um carro funerário para fugir, é descoberto, e a tampa do caixão com ele suplicando para sair, junto a dólares e muitas jóias é trancada, definitivamente, por Rachel. Às margens de um rio encontram-se Ellis e seu novo amigo raciocinando sobre o futuro do dinheiro, já que Hans está morto. Aí vemos a cena do começo do filme, quando ela, também, perto das águas calmas do, é chamada por seu marido e dois filhos. Inquirida sobre o que fazia às bordas do lago, responde: Pensava no meu passado. E os quatro caminham para casa. O dinheiro fora gasto na construção do kibutz!

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