quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Na Natureza Selvagem



Sean Penn

A felicidade só é verdadeira quando compartilhada!
Essa frase escrita por Christopher resume a essência de Na Natureza Selvagem, filme dirigido magnificamente por Sean Penn[1], baseado em fatos reais do livro de Jon Krakauer. Não é uma aventura no sentido convencional. É muito mais perigosa, pois se desenrola dentro da psique de nosso herói. Filmado em planos abertos e claros, Eddie Veder, diretor de fotografia, capta imagens deslumbrantes da natureza selvagem americana, com suas enormes montanhas, seus cânions, corredeiras e rios.
As primeiras cenas nos mostram um belíssimo céu azul, montanhas cobertas de neve, florestas de pinheiros e um trem. Vemos depois uma caminhonete correndo por uma estrada que acaba no nada, apenas neve e um aviso “sem funcionamento durante o inverno”. É uma carona que Christopher Mc Candless (ótimo Emile Hirsh), pega para completar seu sonho de vida: “o Alasca”. Em 1990, recém-formado, nosso protagonista de 23 anos é um brilhante aluno com todas as chances de cursar direito em Harvard, mas depois de conversar com sua família, resolve concretizar um sonho acalentado há tempos. Viver como seus autores preferidos, entre eles o transcendentalista Thoreau[2], que acreditava na liberdade e responsabilidade pessoal, na devoção ao pensamento e na desobediência civil. Partindo dessa filosofia, joga tudo para o ar e sai em busca da felicidade. Desfazendo-se de todos os pertences pessoais, inclusive dinheiro, sai pelo mundo, sendo seu objetivo alcançar o Alasca e viver como um ermitão, somente refletindo e sentindo o poder da natureza selvagem.
O filme é narrado em cinco capítulos por sua irmã que, admirando seu espírito livre e aventureiro, o venera. Christopher muda seu nome para Alexander Supertramp numa gozação ao Superman. Trabalhando nos mais diversos ofícios braçais e nas mais diversas regiões do país, conhece pessoas simples e interessantes, que como ele preferem a vida alternativa a estarem com sua raízes fincadas em um só lugar. Os desafios e perigos são imensos, pois uma pessoa sem identidade fica à margem da sociedade, mas é ela exatamente que nosso herói tanto despreza. Através da fala de sua irmã ficamos sabendo que seus bem sucedidos pais, na verdade não eram casados. Ele tivera um primeiro casamento e um filho, mas nunca se separara da primeira esposa. Daí eram filhos bastardos, como define sua irmã. Eles não sabem que nosso herói descobriu essa verdade tão chocante para ambos os filhos do segundo “casamento”. Sua irmã aceita melhor o fato, mas ele quase perde seu centro e passa a odiá-los. Essa é a verdadeira razão de sua fuga ou viagem. Encontrar-se consigo mesmo é vital para sua sobrevivência. Arando a terra, convivendo com hippies e finalmente trabalhando com um velho senhor, ex-combatente de guerra, conta sua sina e recebe alguns conselhos e declarações pungentes, como a do senhor aposentado que lhe diz que perdoar é amar. Não se vive em paz sem esse sentimento. Conseguindo atingir sua meta, finalmente está no continente gelado. Ao desembarcar da carona, na cena inicial, vê-se frente a frente com a inclemente natureza, que apesar de linda é assustadoramente forte, rigorosa. Ela não poupa nada. É a força mais poderosa que conhecemos. Muito tempo já se passou e Christopher não envia uma só carta ou telefonema para casa. Seus pais de soberbos e intransigentes tornam-se pessoas ternas depois de tanta dor. Encontrando um ônibus abandonado, Emile Hirsh[3] faz dele sua casa. Aí terá a verdadeira oportunidade de testar e praticar os ensinamentos que tanto venerava. Essa é uma tarefa hercúlea para a qual nenhum ser humano solitário está preparado. As forças inclementes e sobrenaturais não podem ser vencidas mesmo com todo preparo físico e psicológico que Christopher possui. Sentindo-se liberto e feliz após alguns meses, descobre que chegou a hora de voltar para casa, perdoar seus pais e seguir sua vida, mas esse desejo é repentinamente interrompido. Derrotado por um rio caudaloso e largo, que sempre estivera lá, porém congelado, vê-se compelido a recuar, voltando ao velho ônibus. Nesse momento os fatos, que são gravados em seu cinto de couro como na pré história, saem completamente de seu domínio, pois ele se encontra envenenado pela raiz batata de urso que comera, vomitando, faminto, desnutrido, e morrendo aos poucos pelos efeitos colaterais da doença. Mesmo sem forças continua seu testemunho, em forma de diário, para que outros se beneficiam de suas experiências. Deitado sobre um colchão velho, esquálido e delirando, observa o sol com seus raios claros e encontrando a paz e seu fim, morre com os olhos fixos no horizonte. Sua mãe pressentindo sua morte se descontrola e seu pai desaba no meio do asfalto em frente à sua casa de tanto sofrimento!



[1] Ator e diretor americano
[2] 1817-1862
[3] Nome do ator que representa Chris

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